Classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a maior crise sanitária mundial de todos os tempos, a pandemia da Covid-19 evidenciou o papel do jornalismo: entregar à sociedade informações confiáveis e capazes de reduzirem incertezas na sociedade.
Para isso, os profissionais da área precisaram se desdobrar entre registrar o cotidiano dos hospitais, compartilhar o que a ciência estava descobrindo sobre a doença, fiscalizar a gestão dos governos municipais, estaduais e federais, tratar a questão da vacinação, do transporte, do auxílio emergencial e, ainda, mobilizar a nação para a adoção de medidas de proteção contra o vírus e, também, divulgar campanhas que visem mitigar as demandas urgentes dos brasileiros que voltaram para a miséria.
O trabalho, entretanto, não parou por aí. Foi preciso travar batalhas contra a disseminação de fake news, ameaças à liberdade de imprensa e, ainda, lidar com os seus próprios medos e desgastes emocionais. Para que isso fosse possível, os jornalistas precisaram adotar a postura de profissionais de linha de frente e, com isso, foram impactados de diferentes formas como: esgotamento mental, demissões em massa e exposição ao vírus.
Combate às Fake News
Além de todas as adversidades ao exercer a profissão, durante o período do surgimento da Covid-19, diversas notícias falsas em torno da doença apareceram e o jornalismo precisou criar meios de desmentir fontes de fake news que disseminavam pânico na sociedade. Márcio Mele, gerente de jornalismo da Band Rio, conta que a luta passou a ser ainda mais dura. “Como tudo sobre o assunto era novidade, o que rodava nas redes sociais virava ‘verdade’. Com isso, criamos um jornal de 15 minutos para tratar dos assuntos. Nos aproximamos e passamos a conviver mais com os especialistas. A todo instante os acionávamos para tirar dúvidas”, diz o profissional.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), em parceria com o Centro Tow para Jornalismo Digital, da Universidade Columbia, o Facebook é responsável por 66% da desinformação no mundo, na frente do Twitter (42%) e do Whatsapp (35%). O estudo mostra também que a principal fonte de notícias falsas é o cidadão comum (49%), enquanto os líderes políticos e autoridades eleitas vêm em segundo lugar (46%). A pesquisa ainda apresenta dados sobre a saúde mental dos entrevistados. As informações apontam que 80% dos participantes notaram ao menos um efeito psicológico negativo, incluindo ansiedade, esgotamento mental, insônia e sensação de desamparo.
Trabalho, dedicação e cuidado
Até outubro deste ano, foram ao ar cerca de 260 edições dos telejornais brasileiros, considerando os que são veiculados de segunda a sexta-feira. Com isso, incontáveis matérias sobre o número de vítimas fatais, a média geral de infectados, informações sobre decretos de lockdown, lotação de hospitais, distanciamento social e outras medidas de prevenção foram postas no ar. Para trabalhos como esses acontecerem é necessário que diversas pessoas exerçam seu papel profissional incansavelmente.
Mele conta que o maior desafio até hoje, quase dois anos depois, ainda é manter a equipe protegida. “Foi necessário que nos uníssemos, pois a situação levou ao afastamento de nossos familiares. A chamada de vídeo foi essencial tanto para matar a saudade quanto para gravarmos entrevistas que, por conta das medidas de prevenção, não podiam ser presenciais“.
Na visão dele, o lado positivo ao serem apresentadas outras possibilidades de formato foi que quebraram um tabu em relação à qualidade do material veiculado. “Sem poder entrar na casa das pessoas precisávamos pedir vídeo do celular. Só que nem sempre o aparelho do entrevistado era bom. A decisão foi colocar no ar do jeito que vinha. A informação está sempre em primeiro lugar”, declara o profissional.
Esperança por dias melhores
Com a virada do ano veio também a injeção de ânimo que a população e os profissionais responsáveis por entregar as informações diariamente para os cidadãos precisavam: o início das campanhas de imunização no país. Maria Morganti, produtora de jornalismo da TV Globo, conta como foi a chegada da vacina no Brasil. “Foi um momento muito marcante. Eu estava na redação de plantão quando a primeira pessoa no Brasil foi vacinada. Funcionou como um sopro de vida depois de tantas mortes”, conta a jornalista. Segunda ela, nesse período, o maior desafio foi lidar com o medo de perder quem ama, com o luto e se manter mentalmente saudável.
Covid no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, até o dia 24 de novembro deste ano, foram registrados 22 milhões de casos e mais de 600 mil mortes por coronavírus. A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) apontou o Brasil como um dos 10 países com o maior índice de jornalistas vitimados pela Covid-19 no mundo. O dossiê, que apresenta dados por estados, apontou que Amazonas, Pará e São Paulo são os principais em número de ocorrências, todos com 19 vítimas. Seguidos por Rio de Janeiro (15) e Paraná (13).
Até o momento, o Brasil está com 83% dos adultos com vacinação completa contra a Covid. Ao todo, desde o começo do programa de imunização, em 17 de janeiro, foram aplicadas 312.436.823 doses das vacinas.