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Um ano de home office

Não temos mais o cafezinho, nem as discussões do nosso “Estúdio U”, tampouco aquela ajudinha olho no olho. Perdemos a barulheira do grupo unido. As risadas foram silenciadas. Não posso mais pedir “cinco minutinhos” para me esperarem para o almoço. O Sr. Antônio, do Trattoria, não vem mais pegar o nosso pedido. As briguinhas para ligar e desligar o ar foram interrompidas. O medo bateu em todas e todos. Por nós, pelos nossos e por aqueles que nem conhecemos, mas respeitamos. Como gestora pensei: vou dar conta de conduzir a equipe à distância, vamos perder clientes?, Como gerar novos negócios no meio de uma pandemia?, Como preservar a vida do grupo? Teremos de mandar alguém embora? Nossa estrutura dará conta do grupo trabalhando de casa? Ai! Caramba: preciso pensar em cada um, cada demanda e cada realidade. Quais ferramentas tecnológicas vão ajudar na nossa rotina?

Foram 15 dias bem pirada. Lembro de um dia que cheguei para a Aninha, a Usineira mais antiga e, nessa altura, minha amiga, claro, e falei: “cara, estou mega estressada, não estou conseguindo, não sei tocar a agência nessas condições, meus dias não estão redendo, blá blá blá”. Ela falou: “já percebi” e rimos. Sim, rimos no meio do caos. Certamente, nosso caos não era e nem é tão perturbador como de milhões de brasileiros. Mas, naquele momento, era o que eu sentia e, de certa forma, era o que o grupo sentia também.

Sentimentos à flor da pele, pois a única coisa que eu pensava com o meu sócio era: se tivermos de mandar alguém embora vai doer demais. Não serei capaz. Não quero. E falei para mim mesma: não vamos mandar! Vamos assinar o “não demita”. O Pedro, meu sócio e grande parceiro, topou e assinamos! Vencemos. Além de não demitir, contratamos. E, contratar no meio de uma pandemia tem um peso diferente.

Um cliente nosso – muito querido – precisou interromper o serviço. A pandemia o afetou em um momento que já não era muito positivo. Lamentamos demais. Grana conta, claro, mas é bem mais que isso. Era (é) uma empresa que temos grandes afinidades ideológicas, mas, o lado bom, sim, eu acredito que sempre tem um lado bom – tá, quase sempre – foi sentir o respeito e o carinho para se quebrar um contrato. Elos ficam. Mesmo dentro de uma relação comercial é possível, sim, construir elos sinceros. No meio da pandemia, esse cliente ligou para pedir ajuda, sim, orientação “0800” para uma questão ligada à comunicação. Foi tão bom ser lembrada também como parceria. São memórias dessa ordem que estão aqui, latentes dentro de mim. É por isso e para isso que sempre quis ter uma empresa, para gerar trabalho, para produzir, para sentir e para somar!

O pessoal pediu para eu escrever um texto de “um ano de pandemia”. Agora, nesse exato momento, fico pensando quantos elos fiz graças à Usina da Comunicação, quantas pessoas já conheci, quantos lugares eu conheci. Em tudo que aprendi e irei aprender. Esse ano não deu para ficar para lá e para cá, não teve reunião presencial com os clientes, nem gravações, nem almoço, nem cursos em ambiente real, não teve evento, não teve comemoração de final de ano, nem almoço para celebrar vitórias, nada. Tá, ok, teve Páscoa virtual, centenas e centenas de encontros virtuais e capacitação on-line, ok, valeu. Sempre vale, mas eu gosto de gente, amo contar e ouvir histórias. E, o pessoal faz diferença, mas para que os encontros e as histórias aconteçam, as pessoas precisam estar ali: presentes, vivendo e fazendo. Elas precisam estar vivas ou tudo acaba.

No último dia 16, completamos 365 dias sem frequentar o espaço físico da agência, sem reunir o grupo presencialmente, sem estar em um dos lugares que mais amo, na Usina. Mas, certamente era e é o que tínhamos de fazer. Cuidar do grupo e deixar todo mundo em casa. Sim, nossa atividade facilita bastante essa decisão. Sei que outras profissões e ocupações se configuram de maneira diferente e nem sempre é possível ficar em casa.

O mais tocante para mim é olhar para o nosso grupo e perceber o quanto somos amigos e o quanto nos apoiamos. Vocês não têm ideia de como foram as nossas reuniões de retorno e de início de ano. Catarse das boas, muitooooo choro, muitos agradecimentos, muitos sonhos envolvidos, muitos risos, muitos medos e muita sinceridade. E, isso me interessa demais. Trabalhar em um lugar que podemos ser exatamente quem somos é uma paz. No meio dessa pandemia ver a rotativa da Usina girar com todos de mãos de dadas e saudáveis é uma dádiva. Não pensem que tudo são flores. Me apropriando de Cazuza digo: “às vezes nos odiamos e depois nos amamos mais”. Eu lamento demais por tudo que o mundo está passando. Me revolto com a falta de respeito que os brasileiros são tratados, mas não perco as esperanças e faço o meu. Agradeço pela equipe que somos, pelo que produzimos e só peço: não achem normal 294.042 de brasileiros terem morrido por conta da covid.