Em 2020, mesmo com a pandemia afetando a rotina do Brasil e do mundo, o jornalismo precisou lutar contra diversos ataques e tentativas de retirar a sua liberdade de atuação. Porém, a profissão se mostrava fundamental à sociedade, e os profissionais corriam atrás de informações apuradas para levar até ao público.
De acordo com o Relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa, produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o Brasil teve 428 casos de violência contra profissionais da área em 2020, 105% a mais que no último ano. As categorias que mais se destacaram foram as de censuras e ataques verbais, seja de forma presencial ou virtual.
Desvalorização pela população
Atualmente, o jornalismo precisa lidar com um novo empecilho que dificulta o seu trabalho: as ações do presidente Jair Bolsonaro para descredibilizar a prática jornalista. Do total de ataques registrados no último ano, 152 vieram do Presidente da República. Tal comportamento serve de inspiração para que seus apoiadores o repitam nas ruas e, com isso, consiga dificultar o trabalho dos profissionais.
Infelizmente, a tentativa de desvalorizar a profissão parece ter resultados. Em 2020, ainda de acordo com o relatório da FENAJ, 76 casos foram de ataques verbais, tanto nas ruas como em redes sociais ou aplicativos de mensagens. Há ainda, de acordo com a Federação, a chance desse número ser maior, visto que alguns profissionais acabam não denunciando os atos.
No Ranking de Liberdade de Imprensa, produzido pela Organização Repórteres sem Fronteiras, o Brasil ocupa a 107° posição. Para ela, o país vive há anos uma situação perigosa para os jornalistas, mas reforçam a intensificação dessa situação após a posse de Bolsonaro, que tornou os ataques ainda mais frequentes e públicos.
Liberdade de atuação afetada
Para Mirian Magalhães, jornalista e professora universitária, a desvalorização contribui para a perda de liberdade, uma vez que ela priva a livre circulação de informações de todas as naturezas e de todas as vozes que possam agregar a esse debate.
No entanto, Mirian acredita que o jornalismo de qualidade nunca estará desprestigiado em um país democrático. “O bom jornalismo não está desvalorizado, o problema é que a gente tem um monte de coisa acontecendo junto, que por um lado é bom, onde você tem liberdade para se expressar e vários lugares para colocar sua opinião, mas quem não sabe o que é o jornalismo olha para isso como se fosse a profissão”, explica.
Defesa da imprensa
A professora explica que a liberdade de imprensa é sempre importante, principalmente, no momento em que vivemos. Na pandemia, o fenômeno chamado infodemia, onde há um excesso de informação com desinformação atrelado a isso, deixa claro o papel do jornalismo nesse momento.
“A gente só consegue conhecer as coisas, raciocinar sobre elas, pensar sobre elas e a partir dali tomar decisões, quando você tem acesso à informações verdadeiras, que você possa confiar e que não sejam oriundas apenas de um único olhar. Quem traz isso para a gente é o jornalismo, ele ainda é a grande arena de debate público. O autor alemão chamado Habermas faz uma comparação do jornalismo com a esfera pública, afirma que hoje nós somos essa arena, ou seja, a esfera pública de debate”, explica.
Para defender a imprensa, Mirian explica que o jornalista precisa estar atento a essas restrições, empecilhos e barreiras que são impostos para dificultar a liberdade de atuação. “Não só perceber, mas reivindicar, reclamar e tudo mais. Acho que o que tem feito algumas organizações como o próprio Sindicato dos Jornalistas, ABI, enfim, outras organizações que a gente tem aqui combatendo algumas pressões, autoridades públicas destratando os jornalistas publicamente, eu acho que é um combate efetivo e que nunca pode parar”, completa.