A estudante Franciele Silva, de 24 anos, moradora da comunidade quilombola Rio dos Macacos, localizada no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador (Bahia), foi uma das dez selecionadas para o curso de capacitação em Direitos Humanos, promovido pelo Programa de Alto Comissariado das Organizações das Nações Unidas (ONU).
A jovem é a única quilombola nordestina selecionada para o processo de capacitação que contará com indígenas e quilombolas de língua portuguesa. O grupo embarca para Genebra, na Suíça, no próximo dia 24 de junho.
Graduanda em direito pela Universidade Federal Federal da Bahia (UFBA), Franciele tem como expectativa principal dar mais visibilidade para a comunidade. “Com o conhecimento que irei adquirir quero ajudar meu povo em nossas lutas e fazer com que nossos problemas sejam resolvidos. Além disso, terei a oportunidade de ajudar outras comunidades”, comenta a estudante. Durante o processo de seleção, Franciele passou por entrevistas em que contou a história do quilombo e, também, a sua trajetória de vida.
Acesso à internet e incentivo aos estudos foram cruciais para quilombola
De acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios 2022, promovida pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o número de domicílios com acesso à internet, no Brasil, chegou a 80%. São 60 milhões de domicílios conectados. Apesar do alto número, até o início da pandemia, em 2020, o Quilombo Rio dos Macacos era uma das localidades que não possuíam esse acesso.
Com o método de ensino à distância adotado pelas instituições, os jovens estudantes e moradores da comunidade necessitavam de conexão à internet para acompanhamento das aulas. Foi nesse período que a UNEafro, União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora, passou a auxiliar os moradores do quilombo. A organização, UNEafro, é uma das que compõe o Projeto SETA, iniciativa cujo objetivo é transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade social antirracista.
“As empresas se recusavam a instalar internet dentro do nosso território, a UNEafro nos ajudou a resolver essa questão e, ainda, custeou esses serviços por dois anos”, comentou Franciele Silva. A organização também proporcionou acesso dos moradores a um curso de pré-vestibular. Com isso, alguns jovens e adultos puderam conquistar a tão sonhada vaga em uma universidade pública.
Sobre o SETA
O Projeto Seta é uma aliança inovadora, com sete organizações das sociedades civil nacional e internacional: ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), Geledés – Instituto da Mulher Negra, Makira-E’ta e a UNEafro Brasil. Fundado em 2021, o objetivo central é transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade social antirracista. O projeto foi selecionado pela Fundação W. K. Kellog no Desafio de Equidade Racial 2030, sendo o único brasileiro entre os cinco premiados.
Sobre a UNEafro
A UNEafro é um movimento que se organiza em núcleos de atuação em diversas áreas. O trabalho mais conhecido são os cursos pré-vestibulares comunitários que atendem jovens e adultos oriundos de escolas públicas, prioritariamente negros/as, que sonham em ingressar no Ensino Superior e preparar-se para o ENEM ou Concursos Públicos.