No último dia 06/11, quarta-feira, a Usina da Comunicação promoveu o bate-papo “Fake News: desinformação e diversidade”. O evento, que aconteceu no prédio da Coca-Cola Brasil, no Rio de Janeiro, recebeu aproximadamente 50 pessoas e contou com a participação de Janaína Gama, da BR Distribuidora, Alessandra Almeida, representante da Bayer, Bruno Marinoni, do Coletivo Intervozes, e Thayame Guimarães, do Instituto de Tecnologia e Sociedade – ITS Rio. O debate foi mediado pela pesquisadora e professora Denise Barros, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Unigranrio.
Significante Vazio e as Fake News
Para abrir a conversa, Denise, que além de professora do PPGA, é especialista em Marketing, fez uma introdução ao conceito de Significante Vazio, do teórico argentino Ernesto Laclau. Segundo a professora, a intensidade de compartilhamento de uma mesma informação faz com que o significado inicial se perca dentro do processo.
“Não existe uma pessoa que não conheça ou não tenha algum tipo de ideia do que é Fake News”, afirmou a pesquisadora, apontando que, apesar dos primeiros estudos envolvendo a expressão terem sido iniciados em 2016, em apenas três anos ela acabou se popularizando consideravelmente. “É fundamental pensar não apenas no quanto esse termo cresceu e permeia nossa vida cotidiana, mas quais são as consequências disso nos movimentos sociais de diversidade ou em como as empresas entendem esse processo.”
Decisões através de Vieses Inconscientes
A gestora Janaina Gama, que trabalha diretamente com a questão de diversidade e promoção de Direitos Humanos na BR Distribuidora, iniciou sua fala fazendo uma reflexão a respeito da disseminação das Fake News através de vieses inconscientes.
Um dos exemplos mencionadas pela palestrante foi o viés da afinidade, que é a tendência que as pessoas possuem de se aproximarem dos seus semelhantes. “A gente percebe isso no ambiente de trabalho, e se a equipe de RH não estiver preparada para este tipo de viés, ela vai acabar contratando pessoas parecidas com ela mesma e acaba esquecendo a diversidade”.
Janaina apresentou dados do relatório do instituto ETHOS sobre as 500 maiores empresas do Brasil, feito em 2016, mostrando como a diversidade se ausenta no quadro de distribuição de cargos conforme os trabalhadores vão ascendendo nas empresas. “Homens e mulheres entram de uma forma igualitária, mas nos altos cargos de liderança elas estão ausentes”.
Inclusão e diversidade dentro do ambiente de trabalho
Alessandra Almeida, responsável pelo RH da fábrica da Bayer em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, acredita que a disseminação de Fake News impacta consideravelmente nesse processo. “Quando começamos a trabalhar a informação, a diversidade de pensamentos e ideias, é nesse momento que a empresa possui a oportunidade de alavancar a inclusão. É fundamental que as informações sejam tratadas com transparência e contextualizadas”, explicou.
Desinformação além das Fake News
Bruno Marinoni, do coletivo Intervozes, alerta para a problemática da desinformação nos dias atuais, não se limitando apenas às notícias falsas. “A questão é como a gente pensa nisso como um problema, pelo volume que existe hoje, porque o debate da informação passa também por boatos, teorias da conspiração, que vão muito além das fakes news.”
O desenvolvimento da internet se tornou um dos fenômenos responsáveis por aumentar a disseminação dessa desinformação. “As pessoas não têm acesso ao meio de comunicação, não são elas que produzem a comunicação com liberdade. Na internet é diferente porque elas fazem o debate onde elas querem”, contou ele, trazendo uma reflexão final sobre qual seria a estrutura dessa internet e até que ponto as pessoas poderiam intervir no modo como as informações circulavam nesse meio.
Sensacionalismo como desinformação
A pesquisadora Thayane Guimarães, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio), finalizou o debate falando sobre a influência que programas voltados para as massas possuem nesse processo. “O sensacionalismo traz incluso a desinformação, porque é a extrapolação do real. É um modo das pessoas apelarem a questões relacionadas a como a gente prefere enxergar uma informação”, comentou ela.
A lógica da desinformação, porém, não se prende exclusivamente aos programas sensacionalistas. A pesquisadora observou que, enquanto há alguns anos a produção era centralizada nas grandes emissoras, com a internet ocorre a democratização desse acesso. Segundo dados apresentados, mais de 50% das pessoas no mundo utilizam o Facebook para consumir notícias, da mesma forma que em um minuto ocorrem um milhão de logins no Facebook e 4,5 milhões de vídeos são assistidos no Youtube.
“Fake news são uma parte da desinformação. Nós temos ainda o miss information, que abarca essa confusão da informação que não tem a intenção de trazer danos. É aí que temos uma ampla gama de contextos que podem acontecer que estão nesse universo da desinformação.”
As próximas rodas de conversa promovidas pela Usina da Comunicação estão programadas para acontecerem em 2020. Siga-nos nas redes sociais para não perder nenhuma novidade.