O Brasil é um país marcado pela colonização de exploração, que escravizou violentamente índios e negros visando rentabilidade econômica para os colonizadores. O racismo está presente desde então em nosso país, por isso falamos em racismo estrutural. São práticas, costumes e falas que carregam o racismo em toda estrutura social, ainda que de forma velada (e, por isso é extremamente perigoso). No campo da comunicação não é diferente. Por mais que haja avanços, ainda há muito a ser reparado pela luta antirracista. O racismo está presente no momento da contratação dos profissionais, nas criações das peças e das campanhas publicitárias, no elenco das novelas, nas bancadas do jornalismo, nas narrativas e na linguagem, entre outros.
Se observarmos o perfil dos profissionais de televisão, ou qualquer outro meio de comunicação, não vemos pessoas brancas e negras presentes com a mesma frequência. No jornalismo, por exemplo, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, em 2015, apenas 22% dos jornalistas formais eram negros.
A falta de profissionais negros não é um problema apenas dessa área. De acordo com o informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, apenas 29,9% dos cargos de gerência são ocupados por pessoas pretas ou pardas.
De olhos fechados para o problema
Aqui, lembramos a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que já expôs sua visão sobre o Brasil diversas vezes. Em uma entrevista para a Folha de S. Paulo, ela afirma que o Brasil vive uma negação sobre a questão racial. Tal opinião é reforçada pela mídia que estereotipa, criminaliza e diminui os negros frequentemente. No entanto, a comunicação tem um papel fundamental na construção de uma sociedade antirracista.
O estudo realizado pela ONG Todxs, que analisou a representatividade na publicidade brasileira, mostra que cerca de 20% dos personagens protagonistas em campanhas publicitárias são negros. Se compararmos essa porcentagem ao número de pessoas negras no Brasil, que segundo o IBGE é de 54% da população, podemos notar que mesmo sendo mais da metade da sociedade, a população não vê uma proporcionalidade quando liga a TV ou navega pela internet.
A luta antirracista é de todos
O racismo não é um problema que apenas o negro deve buscar solução. Os brancos precisam estar cientes de seus privilégios, enxergá-los e lutar por justiça social. Combater o racismo faz parte de um processo de libertação e busca por equidade. Racismo é um problema de todas e todos.
A sociedade e a comunicação têm evoluído nesse sentido. Vivemos uma onda crescente de jornalistas negros como protagonistas dentro de grandes veículos. Porém, a discriminação racial continua existindo, mesmo que de forma velada. Hoje, por exemplo, já vemos campanhas publicitárias sendo protagonizadas por personagens negros livres de estereótipos com maior frequência.
Mesmo assim, ainda precisamos inserir o negro em espaços que normalmente não os são ofertados. Ter essa população como protagonistas de novelas, longe de papéis estereotipados, ou na bancada de telejornais, não só normaliza essa questão, como também serve de inspiração para outros diversos negros.
A comunicação tem um público que acompanha e enxerga a sociedade da forma como é exibida por esses veículos. Por isso, a mídia tem o papel de incentivar o debate e a luta antirracista para que, dessa forma, possamos evoluir e tornar o racismo um conceito extinto em nossa realidade.