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Jornalismo e Memória – Entrevista com Lucia Santa Cruz, ESPM.

No dia em que se comemora o aniversário do Jornal Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro veículo impresso publicado em terras brasileiras, preparamos uma entrevista com a professora da ESPM, Lucia Santa Cruz, Doutora em Comunicação e Cultura e Pesquisadora do Laboratório de Estudos de Memória Brasileira e Representação do MPGEC – Mestrado Profissional em Gestão da Economia Criativa – MPGEC – LEMBRAR. Valorizar o jornalismo e a memória faz parte da nossa história.

1) O que é mais importante quando falamos em memória do jornalismo? Principalmente quando está relacionado ao jornal impresso.

O mais importante é entender o quanto o jornalismo é, ao mesmo tempo, um produto do seu tempo e influencia a conjuntura social, política e econômica. Em todas as fases da história do Brasil vemos a atuação decisiva do jornalismo na conformação dos fatos e no agendamento dos principais assuntos.

2) Qual foi a época mais marcante do jornalismo até hoje?

Todas as fases são relevantes dentro do cenário político de cada era. No Brasil colonial, no Primeiro Reinado e na Regência, o jornalismo era uma arena política, de militância e de defesa de causas. No Segundo Reinado, ele se consolida como um produto de massas, feito em moldes empresariais. No século XX, vai acompanhar o desenvolvimento econômico e a industrialização do país. Em todo este período contribuiu para eleger e depor presidentes e manter no poder grupos políticos. Na minha visão não há uma era de ouro do jornalismo. Estamos vivendo uma situação de reconfiguração dos meios de comunicação, porém mais do que nunca o jornalismo é fundamental para garantir o direito à informação.

3) Ainda hoje, os jornais estão se adaptando ao novo jornalismo, se inserindo no mercado digital e às novas plataformas. É preciso ter jogo de cintura e trabalhar constantemente para se adaptar a esta nova realidade.  Mas, hoje, por que o jornal impresso ainda tem forte presença no dia a dia dos brasileiros?

Não tenho tanta certeza desta presença forte. Acho inclusive que ela vem sumindo. Entre os chamados tomadores de decisão concordo que o jornal impresso ainda tem força. Em grande parte acredito que seja porque o jornal impresso traz não apenas a opinião (como ocorre na veiculação de notícias via redes sociais), mas o fato completo, por inteiro. Hoje, nas redes sociais vamos recebendo as notícias em pílulas, muitas vezes de forma apressada e com apuração zero. E este material muito primitivo termina sendo compartilhado, acompanhado de comentários opinativos de quem partilha. No jornal impresso, a notícia já teve tempo de “descansar” e está consolidada, mais bem apurada (pelo menos em tese), sem os erros da ânsia de compartilhamento.

4) Estamos falando muito em memória do jornalismo, mas qual você acha que será o futuro?

O jornalismo continuará sendo necessário, mas os modelo de negócios do jornalismo tendem a mudar. Ainda não se sabe bem qual será, mas o que se percebe é que a sociedade sempre precisará de profissionais que relatem os principais acontecimentos de maneira clara, direta e acessível.